A partir da segunda metade do século XX foram desenvolvidos diversos pesticidas para controlar pragas na agricultura. Os organofosfatos, em particular, são caracterizados pelos grupos funcionais P=O ou P=S. Esses compostos apresentam alta toxidade e pode provocar sérios riscos à saúde humana. Entre esses organofosfatos possui especial destaque o glifosato, N-(fosfonometil)glicina, C3H8NO5P, que é bastante utilizado em plantações de soja, apesar de existirem diversos estudos que mostrem que ela possa produzir uma vasta gama de doenças, incluindo síndrome lateral amiotrófica, doenças inflamatórias e câncer. Por conta de sua toxidade, muitos governos estão encerrando o seu uso: Luxemburgo em 2020, França em 2021 e Alemanha em 2023. O Brasil, por seu turno, não tem nenhum plano de eliminação dessa substância na sua agricultura altamente dependente de agrotóxicos. Na verdade, na contramão da tendência mundial, em 2019 o Brasil aprovou o uso de diversos agrotóxicos à base de glifosato. Dessa forma, o assunto glifosato se torna bastante relevante e atual.
Nesse artigo - o centésimo trabalho do laboratório tratando diretamente do tema de altas pressões - estuda-se o comportamento dos modos de vibração do glifosato sob altas pressões através da técnica de espectroscopia Raman. Numa primeira etapa realizou-se uma análise dos modos vibracionais à pressão ambiente através da análise Density Functional Theory. Após a realização da identificação dos modos normais de vibração, submeteu-se o cristal a altas pressões em uma célula de pressão a extremos de diamantes. Observou-se desta análise que o cristal de glifosato apresenta descontinuidade nas suas frequências de vibração entre aproximadamente 1 e 1,5 GPa e entre 4,3 e 4,6 GPa, descontinuidades essas que foram associadas a duas transições de fase. Um modo de baixa energia em que foi observada a diminuição de sua frequência com a pressão foi interpretado como sendo devido ao seu acoplamento a alguma ligação de hidrogênio. A redistribuição de intensidade de algumas bandas foi interpretada como mudança conformacional das moléculas na célula unitária. Observou-se, adicionalmente, que as transições de fase são reversíveis. [R.O. Holanda, C.B. da Silva, D.L.M. Vasconcelos, P.T.C. Freire, Spectrochimica Acta A 242,
118745 (2020)].
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