sábado, 9 de agosto de 2025

ENAP-2025

 Aconteceu nos dias 07 e 08 de agosto de 2025, em Porto Alegre – RS, o Encontro Nacional de Altas Pressões – 2025 (ENAP-2025) onde foram discutidos diversos assuntos sobre as pesquisas e melhorias de infra-estrutura de altas pressões no Brasil. Inicialmente, o Prof. Altair Soria, coordenador do evento, e o Prof. Sérgio Magalhães, diretor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, deram as boas vindas a todos os participantes. Em seguida, ocorreu uma pequena palestra virtual proferida pelo Prof. Alziro Jornada, quando ele fez um belo resumo sobre a sua experiência de pesquisas com altas pressões e luz síncrotron, bem como relembrou a sua contribuição na formação de pessoas para trabalharem com o tema, desde o final da década de 1970. O Prof. Paulo Freire, da Universidade Federal do Ceará, se manifestou falando rapidamente sobre a continuidade das pesquisas na área após o ano de 1995, com a criação do Laboratório de Altas Pressões da UFC, mas destacando que o ponto de inflexão para o aumento das pesquisas relacionadas à altas pressões foi o uso das bigornas de diamantes no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron a partir da metade da década de 2000.

Das palestras programadas, a inicial foi proferida pelo Dr. Narcizo Marques, chefe do setor de Matéria Condensada do Sirius, que falou da construção do referido laboratório a partir do ano de 2015, que é um acelerador de partículas de quarta geração. Em particular, discorreu sobre as novas linhas, Sussuarana, Ariranha, Quiri-Quiri, que se encontram em fase de compra de equipamentos. Outras duas linhas, que no momento encontram-se apenas no papel são a INGA e a SERIEMA. Esta última, em particular, será de muita importância para a área de altas pressões do país, uma vez que poderá fazer medidas tanto de XRD e XAS para uma quantidade muito grande de amostras. Já a Dra. Danusa do Carmo, também do Sirius, relatou que a linha Sussuarana será de altas energias e alto fluxo, ideal para grandes amostras, investigando características microestruturais em altas pressões e altas temperaturas, análise in-situ de síntese e processamento, entre outros. A seguir, Rodolfo Tartaglia, também do laboratório Sirius, discorreu sobre a linha EMA, que é a mais utilizada pela comunidade de altas pressões, contendo equipamentos de altas pressões, altas temperaturas e um supercondutor magnético, que permitirá medidas com campos de até 11 T. Em seguida, o Prof. Paulo Freire, da Universidade Federal do Ceará ministrou uma palestra sobre MOFs submetido a altas pressões, concentrando-se num exemplo onde foram realizadas medidas de difração de raios-X, espectroscopia Raman, luminescência (permitindo-se observar free excitons e self-trapped excitons) e transmitância. O Prof. João Victor Moura, da Universidade Federal do Maranhão, discorreu sobre materiais funcionais, como alguns tungstatos e molibdatos, olhando detalhes obtidos por difração de raios-X e espectroscopia Raman. Encerrando a manhã deste primeiro dia, Andres Cardena, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apresentou sua pesquisa relacionada à cristalização de vitrocerâmicas LAS (LI2O.Al2O3.SiO2), observando-se o efeito do crescimento dos cristais, bem como os de temperatura e pressão. A tarde começou com uma palestra do Prof. Claudio Perottoni, da Universidade de Caxias do Sul, que discorreu sobre as dificuldades de estudo no diagrama de fase do flúor, que via de regra, apresenta um grande desafio teórico pelo fato deste elemento químico corroer as bigornas de diamantes quando em altas pressões. Com uma analogia com a luta de Jacó e o anjo, o Prof. Claudio tentou mostrar às dificuldades técnicas que os teóricos encontram nas suas buscas para entenderem determinados aspectos da realidade através da simulação computacional. Continuando nesta linha de simulação computacional, a seguir falou o Prof. Mateus Ferrer, da Universidade Federal de Pelotas, que mostrou estudos de DFT em alguns óxidos como o BiOBr e o CdTiO3, além do CsPb2Br5 e o CsPb2Br4I sob altas pressões. Rômulo Sampaio, estudante de doutorado da Universidade Federal do Ceará, discorreu sobre o ácido adípico, um ácido carboxílico, no qual ele realizou estudos de dos modos vibracionais em função da pressão, além de cálculos de primeiros princípios utilizando o CASTEP.  O Prof. Fábio Furtado, da Universidade Federal do Amapá, a seguir discorreu sobre um estudo em porifirnas de base livre, em particular, mostrando o comportamento de modos vibracionais induzidos por altas pressões. De uma maneira virtual, em continuidade, falou o Prof. Daniel Errandonea, da Universidad de Valencia, que apresentou um belo estudo sobre transportes elétricos. Neste estudos ele mostrou as dificuldades associadas às medidas de resistividade e de efeito Hall, além de resultados em filmes finos de InSb:TE, PrVO4, InSe, CdTe, HfS2 e as transições de fase induzidas por pressão, além de interessantes aspectos de medidas de capacitância sob altas pressões. O Prof. Julio Jimenez, da Universidade de São Paulo, relatou a viabilidade de se produzir materiais quânticos e o papel desempenhado pelos defeitos nestes sistemas. Como exemplo ele falou sobre a FeGa3 e o aparecimento de intrabandas – entre as banda de valência e de condução – que farão com que a resistividade do material aumente a baixas temperaturas. Continuando, a Profa. Luana Caron, da Bielefeld University, Germany, apresentou um trabalho sobre o acoplamento magneto-elástico em materiais magneto-calóricos, no qual a temperatura de um sistema pode ser aumentada com a aplicação de um campo magnético. Em particular, a Profa. Luana apresentou um estudo sobre o efeito da refrigeração magnética num sistema NiMn. Como última apresentação do dia, o estudante de doutorado da UNICAMP, Leonardo Kutelak apresentou um estudo de materiais com topologia não trivial, como o EuB6, o MnG3 e o efeito Hall anômalo, além de uma discussão sobre a possibilidade de uma supercondutividade topológica no MoTe2. Como atividade de confraternização entre os participantes, todos foram a uma churrascaria assistir a uma bela apresentação de dança folclórica gaúcha, encerrando assim, o primeiro dia do encontro.


O segundo dia do encontro iniciou-se com uma palestra virtual do Prof. Achraf Atila, do Federal Institure for Materials research and Testing (BAM), Germany, que concentrou-se no uso da dinâmica molecular em vidros. Através da técnica da persistent homology, ele analisou as dimensões dos anéis e dos vazios formados nos vidros e o efeito das altas pressões nestas particularidades do material. O Prof. Silvio Buchner, da UFRGS, falou sobre diversas propriedades óticas e mecânicas de vidro, quando se aplica a pressão, com destaque para estudos com luz síncrotron. Para ilustrar ele discorreu sobre o total pair distribution function em função da pressão. A seguir, Leonardo Evaristo discorreu sobre a calibração de altas pressões e altas temperaturas em câmaras de grandes volumes sem a utilização de termopares. Dando continuidade, o engenheiro Dagoberto Severo, da Caeté Engenharia Ltda. apresentou as dificuldades oriundas das tensões compressivas em materiais para a construção de câmeras toroidais e como as simulações numéricas auxiliam na resolução deste grande problema. Na sequência, ocorreu a apresentação de seis painéis por parte de seis estudantes de pós-graduação de diversos programas. À tarde, o Prof. Waldeci Paraguassu, da Universidade Federal do Pará, discorreu também sobre o tema MOF, com destaque para o acetamidinium Mn e discussão sobre propriedades dielétricas e óticas do material sob condições extremas de pressão. O próximo palestrante foi o Prof. Rafael Alencar, da Universidade Federal do Ceará, que mostrou ao público presente os seus estudos em sistemas bidimensionais, em particular o WSe2 e o MoSe4. O Prof. Rafael deu destaque à questão relacionada ao strain que os substratos exercem nestes tipos de amostras. Seguindo a ordem da apresentação, falou então o estudante de doutorado da Universidade Federal do Ceará, Wagner Pereira, que mostrou os seus resultados relativos ao Zn glicil-L-fenilalanina que muda bastante com a aplicação de pressão em relação à glicil-L-fenilalanina, diferentemente do Cd glicil-L-fenilalanina. Fechando as palestras do dia, expôs o técnico do Sirius, Jairo Fonseca, que apresentou os últimos desenvolvimentos do laboratório de auxílio às pesquisas do Sirius, o LCTE, com destaque especial para os novos modelos de células de pressão a extremos de diamantes desenhadas e produzidas pelo laboratório, como aquelas feitas de aço inoxidável, inconel 178 (para altas temperaturas) e as de cobre-berílio. Como atividade final do encontro, como é tradição, ocorreu uma mesa redonda, comandada pelo coordenador do evento, Prof. Altair Soria, que passou a palavra para o Dr. Ricardo Reis, do Sirius, que discorreu sobre alguns pontos que ficaram como sugestão no encontro ENAP-2023 de Fortaleza, como a criação de um whatsapp do grupo, que foi implementado; também lembrou do insucesso de se formatar um curso financiado pela FAPESP em 2025 para 50 jovens do Brasil e 50 jovens de outros países da América Latina. Para conseguir realizar, então, a referida escola em 2027, o Dr. Ricardo e alguns outros sugeriram dividir os assuntos em 9 temas diferentes, com duas pessoas da comunidade para gerir cada tema, além de convidar professores para aulas e palestras de cada assunto. O Prof. Altair fez um agradecimento aos membros do comitê que o auxiliaram na organização do evento, enquanto o Prof. Waldeci Paraguassu se comprometeu a realizar o ENAP-2027 em Belém.

 

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