quarta-feira, 17 de julho de 2019

Um novo olhar sobre a L-treonina


A L-treonina é um aminoácido encontrado em diversas proteínas do corpo humano tais como a hemoglobina e a insulina. Nas condições de pressão atmosférica e numa temperatura em torno de 25 oC as moléculas se cristalizam numa estrutura ortorrômbica com grupo espacial P212121. O cristal de L-treonina foi investigado pelo nosso laboratório em duas oportunidades. Na primeira, mostramos que sob pressão, o cristal sofre uma transição de fase em torno de 2 GPa [1]. No segundo trabalho, investigou-se o seu comportamento até pressões de 27 GPa [2]. Como foi mostrado anteriormente, esse segundo trabalho revelou através de espectroscopia Raman evidências de transições de fase em aproximadamente 2 GPa (confirmando os estudos originais), entre 8,2 e 9,2 GPa e entre 14 e 15,5 GPa. Quando a pressão é baixada para a pressão atmosférica, observa-se que o espectro original é obtido novamente, indicando que as modificações são reversíveis.

Recentemente, uma equipe de pesquisadores da Escócia (University of Edinburgh) realizou um estudo minucioso do mesmo material submetido a altas pressões, mas utilizando a técnica de difração de raios-X [3] em conjunto com cálculos de teoria do funcional de densidade. Os autores perceberam que durante as duas primeiras transições de fase o cristal mantém a estrutura ortorrômbica, enquanto que a fase de mais alta pressão é caracterizada por uma estrutura monoclínica. A fase ambiente foi denominada de fase I e as outras fases, I', II e III. As fases I e I' são muito semelhantes, sendo a diferença apenas uma leve rotação do grupo carboxílico. A transição de fase I' - II, que foi observada entre 8,5 e 9,2 GPa, segundo os autores da ref. [3] é devida a uma gradual transformação de um contato eletrostático de longo alcance que se transforma numa ligação de hidrogênio, sendo visto meramente como uma acomodação da estrutura à alta pressão. Finalmente, a fase III, que  foi observada acima de 18.2 GPa, é caracterizada por uma bifurcação do grupo hidroxil em metade das moléculas da célula unitária. Portanto, os resultados de difração de raios-X apresentam uma boa concordância com os resultados de espectroscopia Raman, mostrando que as duas técnicas podem dialogar sem muita dificuldade para apresentar um quadro mais claro sobre o comportamento dos materiais em altas pressões.

[1] B.L. Silva, P.T.C. Freire, F.E.A. Melo, J. Mendes Filho, M.A. Pimenta, M.S.S. Dantas, High-pressure Raman spectra of L-threonine crystal, Journal of Raman Spectroscopy 31, 519 – 522 (2000).
[2] R.O. Holanda, J.A. Lima Jr., P.T.C. Freire, F.E.A. Melo, J. Mendes Filho, A. Polian, New pressure-induced phase transitions of L-threonine crystal: a Raman spectroscopic study, Journal of Molecular Structure 1092, 160 – 165 (2015).
[3] N. Giordano, C.M. Beavers, K.V. Kamenev, W.G. Marshall, S.A. Moggach, S.D. Patterson, S.J. Teat, J.E. Warren, P.A. Wood, S. Parsons, High pressure polymorphism in L-threonine between ambient pressure and 22 GPa, CrystEngComm (2019). DOI: 10.1039/c9ce00388f.


Calibração da pressão

A calibração da pressão no interior de uma célula a extremos de diamantes é uma importante etapa num experimento de altas pressões, seja ele...